Estudos mostram influência da desigualdade social no diagnóstico do câncer de mama
O diagnóstico precoce do câncer de mama pode aumentar as chances de sobrevida e até mesmo permitir a prescrição de um tratamento conservador, sem a necessidade de retirada da mama. Mas será que o contexto socioeconômico e a oferta de serviços de saúde no Brasil favorecem o acesso aos meios de diagnosticar a doença ainda na fase inicial?
Essa foi a preocupação que recentemente orientou a publicação de dois estudos: um na revistas Scientific Reports e outro na Plos One. Os trabalhos resultam do desdobramento da tese da aluna Nayara Priscila Dantas de Oliveira, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSCol), do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). As publicações foram orientadas pelo professor Dyego Leandro Bezerra de Souza, do departamento de Saúde Coletiva (DSC/UFRN), e contou com a parceria de pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
No artigo "A multilevel assessment of the social determinants associated with the late stage diagnosis of breast cancer", os pesquisadores evidenciaram que, em média, 40% dos tumores de mama foram diagnosticados em estágio avançado no Brasil, sendo em maior proporção no Acre (57,4%) e menor no Rio Grande do Sul (33,6%). O estudo também revela que fatores individuais, como nível de escolaridade, interferem nessa estatística. Quem tinha apenas o ensino fundamental incompleto via aumentar em 38% o risco de ser tardiamente diagnosticada com a doença em comparação a quem possuía o nível superior completo. Mulheres negras, pardas e indígenas apresentaram 13% mais desse risco se comparadas às mulheres brancas. De acordo com Nayara Priscila, esses dados sugerem que “quanto maior o nível de desigualdade social, maior a possibilidade de ter um diagnóstico tardio de câncer de mama”. E isso estaria relacionado à demora e/ou à dificuldade para ter acesso aos serviços de saúde.
No outro estudo, "Spatial distribution of advanced stage diagnosis and mortality of breast cancer: socioeconomic and health service offer inequalities in Brazil", os pesquisadores verificaram que as desigualdades socioeconômicas e na oferta de serviços de saúde no território brasileiro são determinantes do padrão espacial da morbimortalidade por câncer de mama no Brasil. Assim, as regiões com maiores níveis de desigualdade social e menor quantidade de médicos ginecologistas apresentaram maiores níveis de diagnóstico em estádios avançados do câncer de mama, condição que dificulta o tratamento e traz maiores riscos de mortalidade.
Para Nayara Priscila, “a discussão sobre as desigualdades sociais associadas ao diagnóstico e mortalidade por câncer de mama possibilita uma melhor compreensão do impacto desta doença tanto individual quanto coletivamente”. Ela também destaca que “esses resultados mostram a complexidade da saúde como fenômeno social e que diminuir as desigualdades sociais é fundamental para promover equidade em saúde”.
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[Marcone Maffezzolli - Jornalista - CCS/UFRN]