Movimentos da longevidade
Pesquisadores do CCS/UFRN investigam como hábitos de movimento e tempo sedentário influenciam a saúde de pessoas 80+
O envelhecimento não é apenas o resultado do tempo, como se ele passasse por nós como um ponteiro de relógio e, a cada movimento, tomasse pouco a pouco de volta o que um dia nos ofereceu na juventude. Não é apenas o tempo que se move, nós também nos movemos. E cada escolha que desenha o nosso modo de viver — mais ou menos ativo — também define o nosso modo de envelhecer. É a partir dessa compreensão que pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) realizam um estudo que busca compreender como diferentes estilos de vida influenciam os riscos à saúde em pessoas com 80 anos ou mais.
Esse trabalho, intitulado Estudo Natal, é conduzido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCSA) e pelo Grupo de Exercício Clínico e Envelhecimento (ExCE), do Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRN). Sob a coordenação do professor Eduardo Caldas Costa, do Departamento de Educação Física (DEF/CCS), a iniciativa busca coletar e analisar dados de idosos longevos para identificar fatores que impactam sua saúde e autonomia.
Para isso, o estudo apresenta dois objetivos. O primeiro é analisar no presente o nível de atividade física, tempo sedentário, padrão de sono e impactos desses fatores na aptidão física, no risco cardiovascular, no medo de cair e em indicadores de bem-estar, oferecendo um retrato atual da condição desses idosos longevos. O segundo é acompanhar esses mesmos participantes ao longo dos anos, até 2028, para verificar se os comportamentos de movimento — mais ou menos ativos — observados hoje nas rotinas desses idosos estão associados à ocorrência futura de eventos cardiovasculares e quedas.
“Já conseguimos atender cerca de 250 idosos, de um total previsto de 500 participantes. O desafio, agora, é ampliar o número de pessoas com 90 anos ou mais, faixa etária mais difícil de recrutar, mas essencial para compreendermos como o estilo de vida de pessoas longevas se relaciona à ocorrência de riscos cardiovasculares e quedas”, explica o professor Eduardo Costa.
Participantes
O Estudo Natal tem como foco um grupo populacional que cresce a cada ano e ainda é pouco explorado pela ciência: os idosos com 80 anos ou mais. A participação na pesquisa é voluntária e deve envolver um total de 500 idosos residentes nos cinco distritos sanitários de Natal, o que possibilita à pesquisa um olhar abrangente sobre diferentes realidades sociais e culturais da cidade. Além da idade, os voluntários precisam estar lúcidos, ter autonomia para se locomover — ainda que com algum apoio — e possuir o número do cartão do Sistema Único de Saúde (SUS).
Dona Maria Helena, mestra rendeira da Vila de Ponta Negra, de 83 anos, participa do estudo, acompanhada do esposo João Ambrósio, aposentado, de 88 anos. Entre fios, rendas e muita história de vida, ela sabe que estar em movimento e sempre ativa fisicamente e mentalmente é o caminho para a longevidade com saúde e bem-estar. Para ela, a experiência tem sido marcante. “Foi maravilhoso, principalmente na terapia da visão, da audição e da comunicação. Para mim, tem sido muito gratificante participar desse estudo”, disse.
As avaliações são realizadas no campus central da UFRN, com transporte gratuito de ida e volta, oferecido aos voluntários e seus acompanhantes. Durante as visitas, os participantes passam por uma série de exames e testes que permitem avaliar sua condição física, sensorial e de mobilidade — entre eles, densitometria óssea (DMO), medições de rigidez arterial, testes de equilíbrio e força, além de avaliações sensoriais (visão, audição e cognição).
Acompanhamento
A doutoranda e fisioterapeuta Nathália Diniz, que integra a equipe, explica que o acolhimento dos voluntários é parte essencial do estudo, começando no transporte e seguindo durante todo o atendimento. “Conversamos com o idoso e seus familiares para compreender seu modo de viver e o ambiente em que está inserido. Isso é fundamental para estabelecer um vínculo de confiança, para que ele se sinta à vontade com a equipe. Nesse contato, ouvimos histórias, lições e aprendizados que tornam o trabalho muito enriquecedor. Após essa aproximação, realizamos os testes e exames”, destaca.
Todo o processo é acompanhado por uma equipe multidisciplinar, formada por profissionais de saúde e pesquisadores. Ao final, cada idoso recebe um kit com calendários e fichas que auxiliam no monitoramento do estudo, realizado à distância, a cada três meses, até 2028. O participante e o acompanhante também recebem orientações sobre como acessar a plataforma digital do Estudo Natal, em que podem baixar gratuitamente um relatório de saúde completo, com resultado dos exames realizados, além de poderem fazer o registro de possíveis quedas ou eventos cardiovasculares maiores, como infarto ou acidente vascular cerebral (AVC).
Como participar
Pessoas idosas com 80 anos ou mais, lúcidas, com autonomia para se locomover — ainda que com algum apoio — e que possuam número do cartão Sistema Único de Saúde (SUS), podem se inscrever diretamente no site do Estudo Natal. A participação é voluntária, e a equipe dispõe de transporte de ida e volta para as avaliações realizadas no campus central da UFRN.
Profissionais da Rede de Atenção Primária de Natal, familiares e amigos podem indicar idosos que atendam ao perfil do estudo. Mais informações estão disponíveis no Instagram @estudo.natal, pelo WhatsApp (84) 99679-5040 ou pelo e-mail estudonatalrn@gmail.com.
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Marcone Maffezzolli – Jornalista
Assessor de Comunicação do CCS
(maffezzolli.ufrn@gmail.com)